Relato do Encontro Mundial de Jovens da CVX

Por Vinícius Riechi

Nos dias 29, 30 e 31 de julho aconteceu o Encontro Mundial de Jovens da CVX. De forma muito alinhada com o Ano Inaciano, todo o encontro baseou-se na experiência de conversão de Inácio e como ela reverbera em todos nós. A dinâmica dos 3 dias foi de palestras, momentos de reflexão e rondas de partilha. Não vou conseguir escrever aqui sobre todos os momentos e mensagens, mas destacarei algumas partes.

O primeiro dia foi dedicado ao tema das “feridas”, as de Inácio, as nossas e as do mundo.  Fomos provocados a nos localizar em um mundo ferido – a pandemia é uma bala de canhão coletiva – e a trazer à consciência nossas feridas internas, para então sermos capazes de abraçar o mundo com preocupações globais e nos abrir para a esperança. Devemos ser “exploradores da felicidade e não dos horrores”, como concluiu a sua fala Antonio España, SJ, provincial da Companhia de Jesus na Espanha. Ele também falou que colocar os jovens como uma preferência da Companhia e da CVX, principalmente dando importância ao acompanhamento dessas pessoas, é um enfrentamento a secularização, ao relativismo, ao hedonismo e a hiper informação. Precisamos dialogar com os(as) jovens, compartilhar espaços e situações de vida, lidar com as falhas, com as dúvidas, com os conflitos, e deliberar juntos, falar juntos, ler a realidade juntos, sonhar juntos, rezar juntos para ver como responder criativamente a tudo isso.

O coordenador mundial de CVX, Denis Dobbelstein, também nos trouxe algumas palavras e afirmou que “a CVX é um presente para a igreja e para o mundo”.

Continuando a provocar nossas potencias, Rodrigo Jordan, do Chile, nos trouxe a realidade triste da pobreza e desigualdade neste país. Realidade muito parecida com a brasileira, que representa uma perda absurda de talentos, inovação, criatividade e empreendedorismo. Ele pediu para que possamos “ir a lugares pobres e escutar, abrir a mente e mudar a alma”.

Por fim, o jesuíta Javier Melloni fez uma excelente fala sobre o processo de conversão de Inácio, pedindo para olharmos para nossas feridas pessoais e ver qual mensagem se esconde nelas, pois, assim como Inácio, só quando somos capazes de aceitar o acontecido, a ferida se converte em uma porta, uma luz por onde o Senhor pode chegar a nós.

Ao final deste dia, começamos em pequenos grupos a pensar em um manifesto que gostaríamos de fazer representando os jovens da CVX e criando compromisso que queremos assumir diante de toda a comunidade e Companhia de Jesus.

Terminei o dia grato por fazer dessa comunidade mundial, na qual em meio a tantas culturas e idiomas diferentes, todos vivem o mesmo carisma. Foram 113 participantes de 52 países.

Dando seguimento ao primeiro dia, o segundo trouxe como tema a reconciliação, a fortaleza do discernimento que nos coloca em saída, a habitar as fronteiras, peregrinando com os outros e construindo o Reino.

Em uma apresentação sobre a necessidade de tecer redes para construir o Reino, Daniel Villanueva, SJ, vice-presidente executivo da ONG Jesuíta Entreculturas, afirmou que “como Igreja, temos a vocação de abraçar a realidade de todas as perspectivas possíveis” e valorizou que os inacianos constituem um “corpo apostólico diverso. que já está funcionando na rede e que pode nos levar a uma conversão capaz de realizar coisas que até agora eram quase inimagináveis.

Ondina Cortés, a superiora da província de Virgen de Guadalupe dos Missionários Claretianos, nos trouxe uma partilha muito profunda e bonita sobre essa experiência de discernimento e como os desafios de vida a impulsionaram para estar a serviço do projeto de Deus.

Tanto no primeiro quanto no segundo dia, nós também tivemos contato com apresentações de obras apostólicas da CVX pelo mundo e partilhas de profissionais da área da saúde sobre como ser CVX fez a diferença durante a pandemia. É muito bom ver a potência da CVX em criar e assumir missões tão importantes, como escolas em Hong Kong e no Kenia  e uma casa de acolhida de refugiados na Espanha.

E, por fim, no terceiro dia celebramos juntos o dia de Santo Inácio de Loyola. Assistimos uma fala muito boa do Padre Geral da Companhia de Jesus, Arturo Sosa SJ, direcionada aos jovens da CVX, na qual ele nos encorajou a escolher o caminho de um futuro com sentido, a partir da esperança e da coragem. Ele também respondeu perguntas feitas por nós e sublinhou que, “ao nos identificarmos com Jesus em Cristo e sermos movidos pelo seu amor, estamos em sintonia com os crucificados deste mundo” e que durante a pandemia “a profundidade da injustiça embutida nas relações sociais atuais em todos os níveis” veio à tona. “A maior contribuição de vocês, jovens, seria tomar consciência do que aconteceu, aprofundar seu significado e confirmar o compromisso com a transformação das estruturas injustas que dominam a humanidade”, explicou.

Também foi possível ouvir o jesuíta José María Rodríguez Olaizola, que contrastou a imagem do turista com a do peregrino, que é o que era Santo Inácio de Loyola. Enquanto o turista é “um colecionador de lugares” que fica no exterior, que viaja “a toda a hora, com um horário definido e uma agenda na qual o improviso raramente se enquadra” porque assim evita dificuldades, o peregrino viaja “aberto à surpresa, aprende e cresce a cada passo que dá e não evita as dificuldades, as enfrenta”. O caminho de Inácio, disse ele, é o seguimento de Deus, um caminho “ao mesmo tempo interior e exterior”, que exige desprendimento e que não estará isento de dificuldades ou derrotas. “Procure exemplos da sua própria vida, contexto, passado, presente ou futuro, onde possa ver essa possibilidade de viver coisas como turista ou como peregrino. A fé (mesmo a espiritualidade inaciana) pode ser vivida como turista ou como peregrino.”

Já o coordenador da CVX Espanha, Eduardo Escobés, explicou que, assim como Santo Inácio saiu pela estrada e lá se encontrou com Deus, “a CVX deve sair: dialogar com a vida social, política, eclesial, com a sociedade de hoje, seus desafios e contradições, seus conflitos, injustiça, pobreza, degradação do planeta, polarização, sexismo social, cultural e eclesial que não reconhece as mulheres em sua cidadania plena, nossa Igreja e sua dificuldade de dialogar com a realidade de hoje e encontrar seu espaço, encontrar o seu papel”. Ele também apontou outro aspecto onde a CVX pode contribuir muito: no hábito de discernimento, pois isso tornou-se necessário e não pode e não deve permanecer individual, mas deve ser coletivo.

Como último ato do encontro e como legado destes dias, foi apresentado o manifesto com 10 objetivos escolhidos pelos participantes.

Como nos outros dias, nessa terceira e última reunião online, todos os participantes refletiram e partilharam suas vidas, fés e esperanças. Concluímos o evento com uma eucaristia celebrada diretamente de Manresa, com todos os países sendo enviados, com a certeza de ter laços firmados com novos amigos CVX, levando tudo o que somos e onde desejamos servir melhor. Para abraçar o mundo, tentando aliviar o sofrimento de suas criaturas e levando esperança, no estilo de Santo Inácio.

Agradeço imensamente a CVX por mais essa experiência espetacular. Saio com a certeza de que esse é o estilo de vida que quero seguir levando em minha vida e partilhando com o mundo. Espero que nossa comunidade, principalmente os jovens, comecem a conhecer-se, fazer networking, propor ideias para continuar fazendo da CVX um espaço de vivência da vida espiritual, em comunidade, e com um claro senso de missão colaborativa para construir um mundo melhor.

Boa parte dos vídeos que assistimos durante o evento pode ser acessado no canal da CVX Espanha no Youtube.

Curitiba, 11/08/2021