Nos dias 24 e 26 de julho, jesuítas e leigos estiveram reunidos no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba-SP, para o primeiro Encontro Nacional da Província BRA, da Companhia de Jesus. No meio dos 340 participantes, o jovem Vinícius Riechi (de camiseta verde, na foto acima), convidado por ser o atual Diretor do Espaço Magis Curitiba, acabou representando não só a CVX Regional Sul (ele participa da Pré-CVX Prézunidas), como também a CVX Brasil. Veja abaixo o relato feito por ele, a respeito da participação inédita da CVX no Encontro jesuíta:
Para acompanhar a leitura, indico as músicas Eu só peço a Deus e Cuidar da Terra. Elas foram utilizadas em momentos de oração do Encontro.
Começo partilhando o clima final: todos muito consolados com os temas trabalhados, reencontros, partilhas e confraternizações, destacando a importância do discernimento espiritual e da escuta.
Já na chegada, com a primeira celebração, desconstruí algumas expectativas sobre o Encontro e entendi que, quando se trata de eventos inacianos, o espírito age com liberdade. Fomos recebidos com uma linda celebração, que trouxe a mística e os personagens do circo como metáforas para destacar as figuras do homem e de Deus. Foi utilizado como base o poema O Maior Espetáculo da Terra, de Elisa Lucinda, o qual recomendo a leitura.
Não vou me estender a todos os momentos, mas destacar o que mais chamou a atenção.
Na intenção de fazer uma retomada histórica para introduzir o tema sobre as Preferências Apostólicas Universais, P. Francys Silvestrini (prof. da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia) e Lucimara Trevizan (diretora executiva do Centro Loyola) conduziram uma bonita “Memória Eucarística” para fazermos uma aproximação amorosa de nossa vida comum, uma aproximação agradecida do que nos tem dado vida, uma aproximação lúcida de nossos dramas e rupturas e uma aproximação aos sonhos compartilhados. Então o P. Claudio Paul, assistente Regional da América Latina Meridional da Companhia de Jesus, fez sua contribuição a respeito das Preferências Apostólicas Universais, destacando a importância do reconhecimento de que fazemos parte de um corpo: “vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês é parte Dele”. Ele apresentou 3 dimensões: o olhar atento ao contexto, a mensagem para o corpo apostólico e orientações para a ação.
Em alguns momentos durantes os 3 dias, lembrei da partilha da nossa coordenadora regional, Kricia Fernandes, sobre a participação dela na Assembleia de Buenos Aires. Assim como em nossa realidade, entre os jesuítas é muito discutido o “como fazer”, como ir às fronteiras. E sobre isso, faço minhas considerações inspirado pelas discussões do Encontro. Essa é uma questão de cultura organizacional, logo o caminho é de mão dupla. Tanto instituição quanto membros devem assumir as fronteiras em suas vidas. Aparentemente, a melhor solução de ação é nos inspirarmos nos exemplos, sejam eles locais ou não, de esfera micro ou macro etc. e focar em obras apostólicas (MAGIS, Fé e Alegria, Serviço Jesuítas para Migrantes e Refugiados, Apostolado LGBT). E aí, como a Kricia também frisou em sua partilha, estamos falando, primeiramente, do entendimento sobre fazermos parte de um corpo maior e que a rede e a colaboração são essenciais. P. Claudio Paul falou em “discernimento espiritual”, que é extremamente importante nos apropriarmos dos documentos sobre as Preferências Apostólicas, no nosso caso (da CVX) Fronteiras Mundiais, que precisamos rezá-los, lê-los por completo e não nos iludirmos com resumos e simplificações.
No mesmo dia, tivemos um breve momento de conversa em pequenos grupos e o que ficou mais marcante, não só nesse momento, mas em todas as interações com os jesuítas, foi a diversidade na unidade. Como é bela e rica a diversidade de formação, experiência, opinião e personalidade dentro da Companhia. É claro que alguns “tradicionalismos” ainda criam amarras para encararmos os sinais dos tempos com mais proximidade, mas o panorama geral é positivo.
O segundo dia foi dedicado às repercussões dos abusos de menores e vulneráveis. As expectativas para esse diálogo foram superadas com uma explanação maravilhosa do P. Cristián del Campo, Provincial do Chile, que de forma serena, verdadeira, corajosa e espiritualizada contou seus aprendizados com casos de ampla repercussão envolvendo jesuítas do Chile. Destaco dois pontos: Cristián frisou várias vezes a importância de protocolos específicos, comunicados com clareza e tomados com responsabilidade; e, diante dos casos, antes de defender a instituição e os companheiros, as vítimas, a verdade, a justiça e a reparação são prioridades.
Durante a fala do P. Cristián, mais uma vez, me lembrei da partilha da Kricia sobre a Assembleia Mundial, que dizia sentir vergonha a respeito das nossas paralisias comunitárias girarem em torno do elitismo, fechamento, sermos autocentrados, orgulhosos, divididos, resignados. Ele explicava que, diante dos nossos pecados, é uma graça sentir vergonha. A cruz não somos nós que carregamos, mas sim as vítimas dos nossos pecados. Esse sentimento é fruto de “aprendizagem espiritual” e a vergonha não deve nos levar à 3ª semana (dos Exercícios Espirituais), numa postura de alto penitência, mas no levar à 1ª semana.
Terminamos o encontro abordando a Amazônia: Sínodo e Ecologia Integral. Tivemos fortes falas de Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu (PA) e vice-presidente da REPAM; e do P. Alfredo Ferro, coordenador do Projeto Pan-amazônico da CPAL, que enfatizaram a importância do trabalho da Igreja na região. Eles apresentaram o histórico dessa atuação, até chegarmos ao marcante e necessário Sínodo da Amazônia. E resumiram o modus aperandi nessa região em 3 palavras: Escutar (a mais importante delas), Cuidar e Caminhar (juntos).
O mesmo Dom Erwin Kräutler celebrou a missa de encerramento com muito entusiasmo e alegria e todos partimos renovados para nossas missões”.
Vinicius Riechi – Pré-CVX Prézunidas